É ter nos bolsos dos casacos sempre um bonequito perdido ou um papel de rebuçado amarrotado...
é deixar que eles me molhem dos pés à cabeça e inundem o chão da casa de banho, só para ter o prazer de os ver em êxtase durante o banho...
é limpar vomitados deles e não ter nojo...
é mudar fraldas com cócó e não ter nojo...
é querer ser pequenina novamente e ter uma vida despreocupada como eles...
é comer alarvemente uma caixa de ferreros rocher e depois meter uma pose moralista que "não não, os chocolates fazem mal à barriga e aos dentes"...
é querer roupas iguais às deles em tamanho de adulto... E sapatos também...
é andar sempre no dilema se sou uma mãe 5 estrelas, uma mãe assim-assim, ou uma mãe horripilante (às vezes tenho tão pouca paciência...).
é transfigurar-me às horas das refeições com direito a cabelos desalinhados em pé, dentes compridos de fora e olhos raiados de vermelho e passar-me pela cabeça enfiar colheres de sopa na boca do Gustavo e forçar a fechá-la, como se faz aos cães quando lhes damos comprimidos e não queremos que os cuspam...
é não conseguir jantar ou almoçar sem estar a enfiar colheradas na boca a uma, a cortar um bife ao outro, e sempre no dilema se janto ao mesmo tempo que eles para me despachar ou se janto mais tarde em paz.. .
é mentir e dizer que o xarope horroroso sabe a rebuçado...
é passar uma noite pavorosa daquelas que me fazem pensar mas porque carga de água tive filhos e em que apetece meter uma rolha na boca da criança e metê-la numa gaveta, para não a ter que a ouvir, e na manhã seguinte achar a criança novamente a coisa mais linda do mundo..
é deixar que me pintem as unhas de roxo e a cara com maquilhagem de várias cores e no fim ainda dizer que estou linda...
é ter o prazer de antes de me ir deitar, ter um momento de filme de os aconchegar e dar-lhes um beijinho.
Porque quando dormem, são os maiores anjinhos do mundo e tudo é cor-de-rosa.. é num minuto querer que eles tenham 30 anos e no minuto a seguir querer que sejam pequeninos para sempre.
Para sempre.
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